quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ruptura na Reflexão Teológica - JL Reflexões

                     A ruptura da teologia                        


Acesso em: 12/11/2010






          A década de 70 foi marcada por uma ruptura epistemológica da teologia. Nasce a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, gerada nas entranhas de uma reflexão “arbitraria” do ponto de vista ortodoxo-católico, alguns chegam a dizer que foi uma “resposta”, a ORTODOXIA, essa teve nos seus principais propagadores LEONARDO BOFF, RUBEM ALVES, MIGUEZ BONINO, JOSE COMBLIN, JUAN LUIZ SEGUNDO, CLODOVIS BOFF, FREI BETO, entre outros.
         
          Da impressão que houve uma conspiração do pensamento contra toda ORTODOXIA, essa ruptura aconteceu também na ORTODOXIA-EVANGÉLICA, com o PACTO DE LAUSANE, uma resposta a ORTODOXIA PROTESTANTE (Evangélica).

         JOHN STOOT, teólogo britânico, e o Equatoriano RENÉ PADILHA, inauguraram uma virada hermenêutica BATIZADA pelo nome de MISSÃO INTEGRAL. As duas vertentes mais expressivas do cristianismo, se “REBELARAM”, tinham em comum a quebra com o pensamento tradicional.

          A nova “TEOLOGIA CONTEXTUAL” foi à mudança paradigmática no pensamento teológico; 1976 foi o que podemos chamar de “A SAIDA DA GAIOLA TRADICIONAL DO PENSAMENTO TEOLÓGICO”, tanto católico como protestante!

          A história do pensamento mostra um movimento cíclico, e a fundamentação dessa teologia não foi EX-NIHILO, pois séculos antes, FRIEDERICH SCHLEIERMACHER (1768-1834) antecedeu a tese primária dessa ruptura quando concluiu:

         “Toda reflexão teológica era influenciada, e até determinada, pelo contexto na qual evoluíra, impossibilitando de haver uma “pura”, supra-cultural, e a - histórica; era impossível penetrar até um resíduo da fé cristã que já não fosse num certo sentido interpretação”.

         Desde a ocidentalização do cristianismo em Constantino, a reflexão teológica fazia um movimento da elite “alto”, para os laicos “baixo”, a ESPOSA era a ESCRITURA, o SÊMEN era a DIALÉTICA com a TRADIÇÃO, e a FILOSOFIA o ÓVULO, que fecundava no encontro com o seu interlocutor, o HOMEM ELITIZADO.

         Sair da gaiola foi à inversão dessa epistemologia, agora seria a partir de baixo “LAICO” aquele que está às margens, a escritura permanecia como ESPOSA, o SÊMEN continuava sendo a DIALÉTICA, a FILOSOFIA e a TRADIÇÃO, sempre férteis, mas a CIÊNCIA entra no relacionamento “EXTRA-CONJUGAL” e GEROU uma filha chamada SOCIOLOGIA.

         Essa com vigor começa a disputar o lugar de sua genitora, e o seu interlocutor não seria mais a elite “DOUTA”, mas, sim o pobre, “BAIXO”, o in-douto culturalmente marginalizado.

         As epistemologias TRADICIONAL (ortodoxa) e CONTEXTUAL (terceiro mundo) é exposta da seguinte maneira por Sérgio Torres:

         “TRADICIONAL: A verdade é conhecida de conformidade com a mente a um determinado objeto, esse conceito se confirma ao mundo existente e o legitima. OCIDENTAL: A verdade não é conhecida de conformidade da mente ao objeto (dialética), é oposto, o mundo é um projeto não concluído e em construção, um processo em transformação”.

          O CLERO tinha a BIBLIA e a TRADIÇÃO como objeto da reflexão, o mesmo ocorre com a ala chamada PROTESTANTE, que tem como interlocutor a BIBLIA, não descarta a TRADIÇÃO, mas a VERDADE não é mais PRÉ-FIXA, ponto em comum na ortodoxia católica e na evangélica:

         “Lançar fora o filho bastardo batizado por nome LOGOS (lógica) “INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL” tendo por pai o Deus grego”.

          A nova epistemologia não descarta a “TEORIA NA REFLEXÃO”, mas sua ênfase recai na “PRÁXIS” essa é a julgadora que determina a “VERDADE” na teologia; a “Reflexão crítica sobre a práxis cristã à luz da palavra de Deus.” (Gutierrez).

          A ASCESE geradora da salvação META-FÍSICA perdeu a META, pois na física, o céu não tem local fixo, o DOGMATISMO, sinônimo de INCAPACIDADE DE DIÁLOGAR COM O DIFERENTE, fechou-se para a ciência, essa foi CONTEXTUALIZANDO a sua COSMO-VISÃO de acordo com o CIENTIFICISMO que deixava duas opções:

          “Dialogar com as ciências, principalmente as humanas, ou ficar fossilizadas, descontextualizadas e irrelevantes para a sociedade”.

          Surge a neo-ortodoxia, a bíblia deixa de SER para con-TER a palavra de Deus, a subjetividade, de-termina, já não é mais a vertical a nascente da leitura, mas a horizontal, a teologia deixa de ser o solucionador da CRISE, e passa a ser a teologia da CRISE, até o mito foi intimado a se explicar, caso se explique, deixe de ser mito, se não, cale-se, deixe a razão falar!

          A HISTÓRIA faria a CRITICA, teria a liberdade para RELATIVIZAR TODO O ABSOLUTO, que venha contra a VIDA, afinal o epítome da fé cristã é a RESSUREIÇÃO DO CORPO e não a IMORTALIDADE DA ALMA, por isso, tanto a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO (católica), quanto a MISSÃO INTEGRAL (protestante), tem a seguinte epistemologia em comum:

          “A VERDADE não é mais metafísica, mas sim é uma construção histórico-cultural & contextual”, o CORPO é o objeto da reflexão, não mais a “ALMA IMORTAL”, a teologia deixou de ter uma VERDADE ABSOLUTA, para ter uma VERDADE HISTÓRICA, afinal o verbo se tornou CARNE, toda reflexão começa nas dores do CORPO e não nos anseios da ALMA”.

          O CORPO tornou-se o principal interlocutor, e o diálogo não é mais a VERDADE PRÉ-EXISTENTE, firmada no IDEAL do SER que “É”; o mundo não precisa ser INTERPRETADO para que o SUJEITO se ajuste a ELE, agora, ele precisa ser TRANSFORMADO, a relação entre SUJEITO e OBJETO não é mais de PASSIVIDADE, contemplação “olhar para”, não é admirar a beleza do COSMOS, mas sim de ATIVIDADE, “entrar em, participar, mudar”, transformar a desordem do caos em cosmos!

           A reflexão não é sobre o LOGOS que se fez DISCURO COERENTE, mas sobre o LOGOS que entrou num corpo e através dele não sistematizou a vida, o ONI-POTENTE torna-se IN-POTÊNTE e grita: ELOI ELOI LAMA SABACTANI, o Deus que está em todos os lugares, encontra um lugar em que está “SÓ”, o corpo de “CARNE”. O eterno experimenta o fim, a vida se encontra com a morte, e faz uma aliança de sentido!

           Nenhuma construção poderia tentar esgotar o falar de Deus, pois o que se fala D’Ele hoje, não pode ser absoluto, a mesma fala que absolutiza o poder do “DEUS QUE FAZ”, encontra o PARADOXO, quando “O DEUS QUE FEZ” , não “FAZ”!

          O MOMENTO HISTÓRICO é outro, a vida é movimento, o tempo passa a ser o RELATIVIZADOR DAS CERTEZAS, assim como nas outras dimensões do saber, afinal de contas se a teologia tem alguma posição não é de RAINHA DAS CIÊNCIAS, mas de SERVA dos homens que pensam, e OPRESSORA DOS IGNORANTES!

          Não é relativizar o PODER DE DEUS, mas sim, não absolutizar o SABER DE DEUS, essa ruptura dá uma nova vida a chamada TEOLOGIA DA MISSÃO INTEGRAL, onde a antropologia, não dicotomiza, mas torna-se HOLÍSTICA, não se fragmenta em TESE e ANTI-TESE, mas interage numa SIM-BIO-SE com a filosofia HEGELIANA de que toda TESE, tem sua ANTI-TESE, que forma uma SIN-TESE, e que novamente volta formar uma TESE e tudo sempre volta ao ponto de onde partiu!

          Mas surge a pergunta: “Fracassou a teologia da libertação e a missão integral”? No meu ponto de vista não! O que houve foi uma expectativa muito acima da realidade na época em que emergiu. No entanto a semente foi plantada, e já podemos colher frutos hoje, cada um que foi impactado mudou a sua reflexão, sua vida e atingem outros.

          Meus tributos a esses que  são os pré-cursores da reflexão que não aceitaram viver enclausurados nas suas certezas, fizeram da dúvida instrumento pedagógico para o desenvolvimento da reflexão!


          * José Lima de Jesus é Mestre em Ciências da Religião, professor na área de Teologia e escritor, com duas obras publicadas pela LDEL Editora: Hermenêutica e Pregação Bíblica.  Gentílmente autorizou a reprodução nesse Blog deste artigo de sua autoria.

Um comentário:

  1. Isso tudo é tão profundo...Uma verdadeira aula de teologia, e gratuita, que benção! Parabéns e obrigada pela a oportunidade de crescimento espiritual,paz!Deus os abençoe.

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